Tenho como sonho um dia poder implementar uma iniciativa para preservar o patrimônio náutico brasileiro… por isso, já pensando em algum dia poder implementá-lo, além do Cadastro de Veleiros Clássicos, decidi pesquisar e escrever artigos sobre diversos assuntos relacionados à vela brasileira, entre eles, os veleiros desenvolvidos no Brasil… é sobre isso que irá encontrar informações no texto abaixo… caso possa colaborar com informações ou registros históricos, entre em contato. O que não podemos deixar acontecer é essa história se perder.
Max Gorissen – Velejador. Escritor.
A II Guerra mundial ia no auge, quando, a 1º de outubro de 1943, um grupo de “yachtsmen”, orientados pelo veterano Preben Schmidt, desejosos de formar uma grande classe de oceano em nossa terra, resolveu escrever à firma Sparkman & Stephens Inc., de Nova York, pedindo que esta lhes desenhasse um barco de uns 40 pés de comprimento (12,19 m) e uns 10 pés (3,05 m) de boca, e que fosse suficientemente equipado para permitir viagens, mais ou menos prolongadas, em perfeita segurança e com boa velocidade.
Tudo era difícil naqueles tempos e a resposta de Sparkman & Stephens Inc., dada em carta de 12 de fevereiro de 1944, foi dilatória, pois que a firma estava trabalhando a fundo para a guerra, desenhando navios pequenos de toda espécie, inclusive o famoso tanque anfíbio “Duck”. Em conclusão, só daí uns oito ou dez meses é que seria possível a Olin Stephens II começar a pensar na nova classe monotipo de oceano que aqueles “yachtsmen” tinham em vista.
Em junho de 1944 comunicava a firma que tinha sido necessário obter uma licença especial do Board of Economic Warfare, dos Estados Unidos, para que pudesse ser iniciado o desenho. Providência que havia tomado por escrito nesse mês de junho.
Em agosto de 1944 os brasileiros passaram a Stephens o seguinte telegrama: “Quando fizer os desenhos definitivos, favor ter em vista que a CLASSE BRASIL será a Classe Brasileira de Regata e de Cruzeiro de Oceano”.
Somente em janeiro de 1945 foram terminados os primeiros desenhos definitivos, que só aqui chegaram em março, também de 1945, ou seja, mais de um ano depois da primeira carta.
Tais desenhos, tiveram de ir a Washington para o Departamento da Guerra dar a licença de remessa para o Brasil.
Enquanto isso, os primitivos interessados, que eram Mariano Ferraz, de São Paulo, Eduardo de Carvalho e Pimentel Duarte, do Rio de Janeiro, e Leopoldo Geyer, do Rio Grande do Sul, estavam ansiosos por mandar fazer os barcos o mais depressa possível.
Pensou-se nos estaleiros da Brazilian Coal, que já haviam construído o «Vendaval», mas esses estaleiros estavam ocupados pelo Lóide Brasileiro, a serviço também de guerra, de modo que não se podia contar com eles. Outros estaleiros idôneos, capazes de se encarregarem de uma obra fina como a execução dos planos do barco da Classe Brasil, igualmente estavam impossibilitados de aceitar encomendas de fora. As oficinas do Iate Clube do Rio de Janeiro, nessa época, trabalhavam na construção dos iates da Classe Rio de Janeiro e também não dariam vazão à encomenda estranha.
Estavam aqueles “yachtsmen” nessa situação, quando, em julho de 1945, realizando-se no Rio de Janeiro o 2º Campeonato Brasileiro de Vela, aqui compareceu, como representante da Federação de Vela e Motor de Santa Catarina, Mario Nocetti, chefe dos estaleiros da importante companhia de navegação Carl Hoepcke. Inteirado do assunto, prontificou-se o distinto engenheiro naval catarinense, a estudar com a Companhia onde trabalhava, a construção das seis primeiras unidades daquela classe, pois que, nessa época, já havia ingressado na empresa Hoepcke o Dr. Aderbal Ramos da Silva e ocupava a presidência o comendador José Gomes Lopes, ambos iatistas velejadores (Para saber mais, leia Estaleiro Arataca e os veleiros Classe Brasil).
Afinal, em janeiro de 1946, foi acertado definitivamente contrato de construção e paga a primeira entrada pelos interessados.1
Assim, como relatado acima (Matéria na antiga revista Yachting Brasileiro de Janeiro de 1949 ), os veleiros da Classe Brasil surgiram da necessidade de um barco de oceano adequado para cruzeiros e regatas mais longas pelo litoral brasileiro, entre elas, a Regata Santos-Rio e, internacionais, especificamente, a Regata Buenos Aires-Rio (está última regata idealizada pelo Sr. Pimentel Duarte), e que ficou conhecido como Classe Brasil, um “Slupe” de 42 pés, baseado no veleiro S&S Mackinak (este tinha uma área vélica um pouco maior – ver artigo ao final), outro projeto Olin Stephens, mas adaptado às condições de vento brasileiras.

Com o projeto de design em mãos, o Sr. Pimentel Duarte, velejou no verão do ano de 1945 com o seu veleiro Vendaval até Florianópolis, para contratar o Estaleiro Arataca (leia artigo: Estaleiro Arataca e os veleiros Classe Brasil), com o objetivo de construir dez veleiros Classe Brasil, cujos equipamentos, como mastreação, catracas, ferragens e motores, já haviam sido adquiridos antecipadamente (por causa do longo processo de importação da época que dependia exclusivamente do transporte marítimo) no estrangeiro.
Dos dez veleiros encomendados, ficou combinado inicialmente a construção de seis, seguidos estes por outros quatro, contudo, ao final, somente oito foram produzidos já que dois proprietários desistiram no meio do caminho.

Os veleiros Classe Brasil
O Ondina, construído para o Dr. Joaquim Belém, construído pelo Estaleiro do ICRJ, foi o primeiro veleiro da Classe Brasil a ficar pronto, sendo lançado à água em 1947, antes dos outros, que estavam sendo construídos no estaleiro Arataca, em Florianópolis. Com Joaquim Belem, venceu duas Santos-Rio, em 1951 e 1952 e, com Domingos Giobbi, venceu a Santos-Rio de 1963… Infelizmente, em 2016, por causa de sua deplorável condição (veja vídeo abaixo), o veleiro foi totalmente desmontado e suas madeiras queimadas. As ferragens e a quilha de chumbo foram vendidas para poder ressarcir a marina pelo tempo em que o veleiro ficou abandonado e sem pagamento.
Uma anedota sobre a origem do Ondina: Por ocasião da 1ª Regata Buenos Aires-Rio de Janeiro, realizada em janeiro de 1947, o Dr. Joaquim Belém pôde apreciar as qualidades de um veleiro concorrente que tinha dimensões bem parecidas com as do “novo futuro” Classe Brasil. O veleiro a que me refiro era o German Frers Narval 41 “Cangrejo“, de Enrique Salzman. Entusiasmado, o Dr. Belém, pouco depois, mandou construir seu Classe Brasil nas oficinas do Iate Clube do Rio de Janeiro, levando-a a bom termo e com relativa presteza (tanto que foi o primeiro Classe Brasil a ser lançado).
O Aracaty, primeiro veleiro Classe Brasil construído e entregue pelo estaleiro Arataca para o Dr. Mariano Ferraz, teve vários de seus componentes e ferragens importados dos USA pelo seu proprietário, incluindo seu mastro e retranca, ambos construídos por Henry B. Nevins, Inc. (1878-1959) em seu estaleiro em New York – USA.
O Cairu II, segundo veleiro Classe Brasil construído pelo estaleiro Arataca para o Sr. Leopoldo Geyer, com seu filho, Jorge Frank Geyer, venceu a Terceira Edição da Buenos Aires-Rio de 1953 em que, além da vitória, o barco ainda foi homenageado pelos presidentes do Brasil e da Argentina, Getúlio Vargas e Juan Peron. Em 2015, a organização da Ilhabela Sailing Week homenageou o veleiro catarinense Cairu II por ter sido a primeira embarcação brasileira a conquistar um título internacional (Regata Buenos Aires – Rio de 1953).
O Procelária, quinto veleiro Classe Brasil construído pelo estaleiro Arataca para o Sr. Fernando Pimentel Duarte, sagrou-se campeão da Santos-Rio nos anos de 1953, 1957, 1961 e, no ano de 1964, venceu com o Sr. Manoel Souza Campos. Infelizmente, o veleiro afundou em Fernando de Noronha quando levava uma equipe de oceanógrafos para o Amapá.
O Turuna (leia matéria da SailBrasil abaixo sobre o Turuna e Malagô, rebatizados Pepa XVIII e Pepa XIX respectivamente), sétimo veleiro Classe Brasil construído pelo estaleiro Arataca para o Sr. Caio de Barros Penteado, venceu a Santos–Rio de 1962. Segundo relato de Raymond Grantham, quando o veleiro era de propriedade do Sr. Eduardo Fagiano, com a troca das velas de algodão por Dacron, foi também trocado o mastro de madeira por um de alumínio (mastro que hoje está instalado no Malagô pois, o original de madeira deste veleiro, foi instalado no Turuna – troca de mastros), este instalado pelo Sr. Jean Daniel Peter, seguindo indicação da empresa S&S.
O Cangaceiro, oitavo e último veleiro Classe Brasil construído pelo estaleiro Arataca para o Sr. Domício Barreto, ficou com a fita azul na Santos-Rio de 1954.
O Zumbi, construído no Iate Clube da Bahía, para o Sr. Aroldo, afundou em Aratu – BA.
O Malagô (leia matéria da SailBrasil abaixo sobre o Turuna e Malagô, rebatizados Pepa XVIII e Pepa XIX respectivamente), último Classe Brasil construído no ano de 1961 pelo estaleiro do Iate Clube da Bahía para o Sr. Antonio Adelson Coelho, correu sete edições da Santos Rio. Seu melhor resultado veio com uma 4ª posição na Geral e 2º na Classe B no ano de 1962.
Como eram os Classe Brasil
Originalmente, o convé (deck) dos Classe Brasil seriam todos cobertos de lona, contudo, alguns proprietários decidiram por ter seu convés em madeira araribá (árvore nativa da Mata Atlântica, sendo uma madeira de lei bastante valorizada). Outras madeiras, como a Teka, também foram utilizadas e nenhum veleiro foi entregue com o “especificado” convés de lona.
Os primeiros veleiros saíram com um motor auxiliar “Gray” de 4 cilindros, 25 HP, Direct Drive e hélice automática Hyde Windlass de 16 x 7.
Os mastros, as retranca e os pau de spinnaker, foram encomendados nos Estados Unidos e, suas ferragem, produzidos pela empresa Merriman Brothers.
O mastro possui uma distribuição dos esforços dos estais usando uma ferragem tipo “diamante”, ou “Martingala”, como dizem no sul. Recurso inteligente num mastro fracionado e que elimina o uso de estais volantes, mantendo o estai de proa com tensão. O estai de popa é permanente.

Os últimos três veleiros Classe Brasil, Voodoo, Zumbi e Malagô, foram construídos em Salvador, no estaleiro do YCB – Yacht Clube da Bahía.

Características técnicas
- Período de Produção no Brasil: 1948 a 1961
- Classe: Brasil (também chamada de Mackinac nos USA)
- Estaleiros: Arataca, Iate Clube da Bahía e Iate Clube do Rio de Janeiro
- Armação/ Tipo: Sloop
- Projeto: Sparkman & Stephens
- Material do casco: Madeira
- Categoria: Mar aberto
- Motorização: Gray Marine de 4 cilindros com 25hp (os primeiros) e hélice automático da Hyde Windglass 16×7
- Tripulantes:
- Comprimento: 40’ ou 12,192 m
- Linha d’água: 8,42 m
- Boca: 3,060 m
- Calado: 1,803 m
- Área vélica (Mestra e Genoa): 64,10 m²
- Área vélica (Balão): N/D
- Deslocamento: 10.000 kg
Veleiros Classe Brasil com seus nomes originais e estaleiro, listados por ordem de varamento
| Nome original | Ano | Primeiro proprietário | Numeral | Estaleiro | Outros nomes |
|---|---|---|---|---|---|
| Ondina | 1948 | Joaquim Belém | BL 13 | Iate Clube do Rio de Janeiro – ICRJ | Analee, Bermuda e Comphetitor |
| Aracaty | 1949 | Mariano Marcondes Ferraz | BL 10 | Arataca | Mergulhão, Procyon, Rebeca e Saipan |
| Cairu II | 1949 | Leopoldo Geyer | BL 12 | Arataca | Sagres V |
| Majoy | 19?? | Eduardo Simonsen | BL 11 | Arataca | |
| Gaivinia | 19?? | João Manderback | BL ?? | Iate Clube do Rio de Janeiro – ICRJ | |
| Simbad | 1951 | Alcides Lopes | BL 14 | Arataca | |
| Procelária | 1951 | Fernando Pimentel Duarte | BL 15 | Arataca | Investor, Nagual |
| Mistral | 1952 | Leon Marius Joullie | BL 16 | Arataca | |
| Turuna | 1962 | Caio de Barros Penteado | BL 18 | Arataca | Aquarius, Tai-Pan, Santa Rita, Turuna (novamente) e Pepa XVIII |
| Cangaceiro | 1954 | Domício Barreto | BL 17 | Arataca | Kincaid |
| Barracuda | 1954 | Paulo Ferraz | BL 40 | ? | Flegon |
| Voodoo | 196? | Alfredo Santos Sousa | BL 42 | Yacht clube da Bahía – YCB | |
| Zumbi | 196? | Aroldo | BL ?? | Yacht clube da Bahía – YCB | |
| Malagô | 1961 | Antonio Adelson Coelho | BL 41 | Yacht clube da Bahía – YCB | Toa-hay, Pepa XIX |

Regatas – alguns dos resultados dos veleiros da Classe Brasil em importantes regatas nacionais e internacionais
- II Buenos Aires-Rio – realizada em janeiro de 1950:
- 6º Ondina
- 9º Majoy
- DNF Aracaty
- III Buenos Aires-Rio – realizada em fevereiro de 1953:
- 1º Cayru II
- 2º Mistral
- 4º Simbad
- 5º Majoy
- Santos-Rio
- 1951 – 1º Ondina
- 1952 – 1º Ondina
- 1953 – 1º Procelária
- 1954 – 1º Cangaceiro
- 1955 – 1º Mistral
- 1957 – 1º Procelária
- 1961 – 1º Procelária
- 1962 – 1º Turuna
- 1963 – 1º Bermuda
- 1964 – 1º Procelária
Matérias da época
Matéria do Veleiro Classe Brasil Ondina copiado da antiga revista Yachting Brasileiro de Janeiro de 1949 e intitulado “Classe Brasil – Lançada ao mar a sua primeira unidade” por Paulo Muniz.

Matéria na revista Yachting Brasileiro No. 86 de dezembro de 1951 – Proibida sua reprodução. Todos os direitos reservados.
Matéria na Revista Yachting Brasileiro No. 61 de novembro de 1949. Todos os direitos reservados – Proibida sua reprodução.


Várias reportagens sobre a vitória do Cairu II na Regata Buenos Aires-Rio de 1953
Entrevista completa com o Sr. Manoel Messias, responsável pela reforma dos Classe Brasil Turuna e Malagô, rebatizados Pepa XVIII e Pepa XIX respectivamente, na reportagem de Maximilian Immo Orm Gorissen – Jornalista e Editor da SailBrasil.com.br (SB) e veiculado no site http://www.sailbrasil.com.br em 22/06/2022.

Matéria “Brasil, uma classe que deixou saudades” – Revista Vela e Motor – Ano V – No. 50 de maio de 1981. Todos os direitos reservados. Proibida sua reprodução.
Artigo “THE SALVATION OF VIXEN – de Jan Bogart” falando sobre a reforma de um veleiro da Classe Mackinac e sobr e os Classe Brasil – Copyright 2004 por Jan Bogart e Patrick Matthiesen – Proibida sua reprodução. Todos os direitos reservados.
Vídeos
Estaleiros
- Estaleiro Arataca – SC
- Oficinas do Iate Clube do Rio de Janeiro – RJ
- Iate clube da Bahía – ICB – Salvador – BA
Depoimentos e contribuições para esta matéria

Atila Bohm informou em 2015
O nome original do Classe Brasil Argentino VENDAVAL é TURDERMAY (numeral A 220) e foi para a água em 1949. É um Classe Brasil construído pelo Astillero Kaltulocich y Saco na Argentina. Correu a Buenos Aires de 1950 e 1959. Foto histórica (ao lado), antes de entrar o vento Sudeste, forte, que forçou 14 barcos a desistirem da regata.
Post do Classe Brasil Argentino Vendaval (Turdermay) em 21 de fevereiro de 2015 (retirado do Facebook de Escudero Nakashidze Pedro Martin)
Vendaval, clase Brasil 40 pies, después de que realice la restauración, preparado para correr su primer copa Rolex, llegando a Punta. – Fotos: Pedro Martin
Pablo Ferres – 12 de maio de 2014 (Post no Facebook)
“Vendaval”, “Clase Brasil” A-220 corriendo en Punta del Este.

Gustavo Pacheco enviou o vídeo do Cangaceiro I em 16/09/2025
Andy Barracuda, Chest Not Tree e Froya 50 por WhatsApp em 23/09/2025:
Max, valiosa pesquisa!
O Flegon existe e restauramos.
Pesquisas indicaram que era o Barracuda, BL 40.
Assim o denominamos.
Pode ter sido o Aracati?
Tiago, do Veleiro Guanabara Bruma enviou em 23/09/2025 o seguinte link para o Instagram do Cairu II:
Jonas Penteado enviou por WhatsApp em 23/09/2025:
O Bermuda, originalmente Ondina, foi o primeiro Classe Brasil foi construído no ICRJ, que na época tinha marcenaria naval, para Joaquim Belem. O Aracaty foi o primeiro construído em Florianópolis no Estaleiro Arataca para Mariano Ferraz de São Paulo, que foi presidente da Federação Paulista de Vela e Motor, antecessora da FEVESP.
Fotos enviadas por Átila Bohm por WhatsApp em 23/09/2025:
Aracaty foi Procyon, Rebeca e Saipan.
Xavier Stump por WhatsApp em 23/09/2025:
Há mais de 50 anos, eu velejava num classe Brasil chamado Simbad. O proprietário se chamava, se me lembro bem, Orlando e era um “cameramen” da Globo. Alguém sabe o paradeiro deste veleiro?
Resposta do Roberto da Netvela ao post do Xavier Stump (acima):
O Simbad era o BL 14 construido no Arataca e era o veleiro série 4 de 8 construidos.
Veja em: https://www.netvela.com.br/app_barcos_proprietarios.php?idx=30630
Não temos dados sobre este barco, nem seu paradeiro.
José Carlos Lodovici informou por WhatsApp em 23/09/2025:
1) Antes de ser “Procion”, o “Aracati” foi batizado de “Mergulhão” pertencendo por um breve período ao Marco Antônio Vieira de Carvalho (Caco), posteriormente vindo a ser Comodoro ICS, por mais de três décadas.
2) Quem pôs um mastro de alumínio, no primitivo “Turuna“, foi Hartwig Buchard, que o comprara de Caio de Barros Penteado (pai do Jonas). Além de diretor da Hoechst do Brasil, Hartwig era artista plástico e foi Comodoro da ABVO. Batizado de “Santa Rita”, o Turuna recebeu mastro de alumínio (se bem me recordo da afamada marca Proctor), recebeu um novo motor Westerbeke (no lugar do primitivo Gray Marine – a gasolina).
Dos dez kits importados (mastros de Spruce, ferragens Merriman, velas e estais), um dos mastros veio a quebrar-se ao meio quando tiravam do navio, vindo a provocar a desistência de um encomendante, levando Joaquim Belen a comprar o kit incompleto e construir o “Analee”/ “Ondina” no hangar do ICRJ. O mastro pôde ser feito com Spruce que havia de sobra nas dependências da Aeronáutica do Galeão, de vez que a madeira era vocacionada para a confecção dos bordos de ataque das asas dos aviões. O Spruce também é imprescindível na fabricação das pranchas sonoras dos pianos, violinos e violões. Em seguida, o “Ondina” foi comprado pelo Domingos Giobbi, que o batizou de “Bermuda”. Giobbi chegou a vencer uma Santos-Rio e parte de seu êxito se devia ao convés de Cedro, no lugar do Araribá, ja não bastasse o fato dos brasis terem o tabuado de Cedro até a linha d’água, e a pesada Peroba de Campos nas obras vivas. Giobbi era famoso esportista, também por ser alpinista que teria conquistado o Aconcágua. Por um breve período, chegou a ser proprietário do legendário “Vendaval“, ao qual batizou de “Bermuda II”. Lembro-me do barco, sempre coberto com um encerado, fundeado no Rio Santo Amaro (Guarujá-SP), em reforma que jamais terminou.
Consta que o Arataca teria construído apenas nove barcos, mesmo assim, cometendo o grave erro de empregar parafusos de latão, desacatando a especificação do projeto original, que indicava parafusos de Everdur. O Everdur é uma liga patenteada pela “Anaconda”, considerada a gigante das ligas cuprosas, inclusive monopolizando as jazidas do Chile. Por tal motivo, o Everdur hoje é produzido com outros nomes, infelizmente indisponível no Brasil, por falta de demanda, apesar de algumas laminadoras nacionais exportarem os vergalhões para nações mais cultas, em matéria de construção naval tradicional. Praticamente todos os brasis do Arataca acabaram com os parafusos degolados, pela perda do Zinco (deszincificação do latão). Os britânicos chegam a dizer que é proibido empregar-se latão, ou qualquer outra liga cuprosa que contenha mais do que 15% de Zinco, em ambiente salino, não sendo necessário estar debaixo d’água, até porque o latão (Zinco) é facilmente reagente com a seiva da madeira. Cheguei a ver brasis nos quais era possível enfiar-se a mão, entre o tabuado e a caverna !
As fotos abaixo correspondem ao “Bermuda”, ainda pertencente ao Giobbi, por mim tomadas nas dependências do saudoso ICS, nos idos de 1963:
Bermuda nas dependências do Iate clube de Santos em 1963 – Fotos: José Carlos Lodovici
Em seguida, em estado deplorável, no Dico Tapioca (Canal de Bertioga do lado do Guarujá):

Links e referências bibliográficos e informativa
- Revista Yachting Brasileiro – várias edições.
- Velejadores Clássicos no Facebook – https://www.facebook.com/groups/velejadoresdeclassicos/
Agradecimentos
- Átila Bohn
- Guilherme Vestphal
- Gustavo Pacheco
- Raymond Grantham
- José Carlos Lodovici
- Francisco Luiz Silva do SPYC (com edições da Revista Yachting Brasileiro)
Espero que tenha gostado pois, cada embarcação clássica tem uma história única para contar e que pode servir de referência e consulta para historiadores, pessoas e instituições interessadas, antigos e novos proprietários e o público em geral, promovendo assim a rica e as intrigantes histórias associadas a esses clássicos e preservando e aumentando assim seu significado cultural para as gerações futuras.
Bons ventos!
Max Gorissen
Velejador. Escritor.
Notas de Rodapé (também incluídas no texto acima em Links e referências bibliográficos e informativa)
- Trecho inicial da matéria do Veleiro Classe Brasil Ondina copiado da antiga revista Yachting Brasileiro de Janeiro de 1949 e intitulado “Classe Brasil – Lançada ao mar a sua primeira unidade” por Paulo Muniz. ↩︎
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