Tenho como sonho um dia poder implementar uma iniciativa para preservar o patrimônio náutico brasileiro… por isso, já pensando em algum dia poder implementá-lo, além do Cadastro de Veleiros Clássicos, decidi pesquisar e escrever sobre diversos assuntos relacionados à vela brasileira, entre eles, seus estaleiros… é sobre isso que irá encontrar informações no texto abaixo… caso possa colaborar com informações ou registros históricos, entre em contato. O que não podemos deixar acontecer é essa história se perder.
Max Gorissen – Velejador. Escritor.
O estaleiro Arataca, que data de 1907, pertencia ao Sr. Carl Hoepcke e ocupava uma área de 15 mil metros quadrados na Rua Forte Santana 405 – Centro – Florianópolis – SC.
O empresário Carl Hoepcke, fundou em 1895 a ENNH (Empresa Nacional de Navegação Hoepcke) e foi um dos principais protagonistas da industrialização de Santa Catarina no século passado.

Construído numa pequena enseada, na pequena praia também batizada de Arataca, que tinha cerca de 200 metros de extensão, junto ao Forte Santana, o Estaleiro Arataca era composto de várias edificações e de uma “carreira” para os navios, servindo para prestar serviços especializados e construindo não só os Navios da “Empresa Nacional de Navegação Hoepcke”, como também prestando serviços para a sociedade, através de serviços de manutenção em barcos.
O estaleiro era composto por cinco edificações que abrigavam oficinas de soldagem, fundição e carpintaria, depósitos e 135 metros de trilhos para puxar os barcos para a terra, inclusive os de grande porte, de mais de mil toneladas, como o Carl Hoepcke, a grande estrela da companhia de navegação.
Em 1952 empregava 114 funcionários, sendo então de propriedade do Almirante Saldanha da Gama.


O estaleiro e sua relação com a vela
Os veleiros da Classe Brasil, surgiram da percepção do Sr. Jose Candido Pimentel Duarte que, sentindo a necessidade de um barco de oceano adequado para cruzeiros e regatas mais longos em nosso litoral, entre elas a Regata Santos-Rio de Janeiro e a Regata Buenos Aires-Rio de Janeiro, encomendou à firma Sparkman & Stephens o projeto de um veleiro adaptado às águas brasileiras e que ficou conhecido como Classe Brasil, um “Slupe” de 42 pés baseado no design do veleiro norte americano Mackinac. Leia mais sobre estes veleiros e sua história em Um Brasil de classe única.

Com o projeto de design em mãos, o Sr. Pimentel Duarte, que representava um grupo de velejadores brasileiros, velejou no verão do ano de 1945 com o seu veleiro Vendaval até Florianópolis, para contratar o Estaleiro Arataca, com o objetivo de construir dez veleiros Classe Brasil, cujos equipamentos, como mastreação, catracas e ferragens e motores, já haviam sido adquiridos antecipadamente (por causa do longo processo de importação da época que dependia exclusivamente do transporte marítimo) no estrangeiro.
A escolha do estaleiro, se deveu ao esforço do Sr. Mario Nocetti, Engenheiro Naval e Diretor do Estaleiro Arataca na época, contudo, dos dez veleiros encomendados, ficou combinado inicialmente a construção de seis, seguidos estes por outros quatro, contudo, ao final, somente oito foram produzidos já que dois proprietários desistiram no meio do caminho.

Os veleiros produzidos pertenceriam aos senhores: Mariano Ferraz (SP), Eduardo de Carvalho, Pimentel Duarte (RJ), Leopoldo Geyer (RS), Jorge da Silva Prado, Eduardo Simonsen, José Cortez e Ulysses Ribeiro (veja descrição abaixo).

Os veleiros Classe Brasil produzidos pelo Estaleiro Arataca foram:
- Aracaty (Mariano Marcondes Ferraz) – BL 10 – 1949.
- Cairu II (Leopoldo Geyer) – BL 12 – 1949 – Segundo veleiro Classe Brasil construído pelo estaleiro Arataca. O Cairu II, com Leopoldo Geyer e seu filho Jorge Frank Geyer, venceu a Buenos Aires-Rio de 1953 em que, além da vitória, o barco ainda foi homenageado pelos presidentes do Brasil e da Argentina, Getúlio Vargas e Juan Perón.
- Majoy (Eduardo Simonsen) – BL 11 – 1949.
- Simbad (Alcides Lopes) – BL 14 – 1951.
- Procelária (Fernando Pimentel Duarte) – BL 15 – 1951 – Com Fernando Pimentel Duarte, sagrou-se campeão da Santos-Rio em 53, 57, 61 e 64.
- Mistral (Leon Marius Joullie) – BL 16 – 1952.
- Turuna (Caio de Barros Penteado) – BL 18 – 1962 – Com Caio de Barros Penteado, venceu a Santos–Rio de 1962.
- Cangaceiro (Domício Barreto) – BL 17 – 1954 – Com Domício Barreto, ficou com a fita azul na Santos-Rio de 1954.
Matéria na Revista Yachting Brasileiro No. 61 de novembro de 1949. Todos os direitos reservados – Proibida sua reprodução.
Os outros veleiros Classe Brasil e os estaleiros onde foram construídos são:
- Ondina – Estaleiro do ICRJ
- Gaivinia – Estaleiro do ICRJ
- Barracuda – Estaleiro ?
- Voodoo – Estaleiro do YCB
- Zumbi – Estaleiro do YCB
- Malagô – Estaleiro do YCB
O Estaleiro (1907-1964) e sua relação com a construção naval – Conheça a história:
- Em 1907, Carl Hoepcke construiu o estaleiro na pequena enseada entre as praias da Arataca e o cais da praia Rita Maria, próximo ao Forte Santana, hoje, terreno embaixo da cabeceira insular da ponte Hercílio Luz.
- Formado por várias edificações e de uma carreira para deslocamento dos navios ao mar, o estaleiro ocupava 15 mil metros quadrados, e em 1952 mantinha 152 empregados.
- Na década de 1940, o então governador Aderbal Ramos da Silva, genro de Carl Hoepcke, mandou construir no estaleiro o iate Anita I, em homenagem à sua filha mais velha. O barco participou de muitas competições, inclusive a regata Buenos Aires- Rio, abrindo mais uma frente de trabalho para o estaleiro, que recebeu a encomenda para a construção de dez veleiros da Classe Brasil.
- Com a extinção do porto e, posteriormente, o aterramento da baía Sul, o Arataca foi desativado e seus empregados colocados à disposição do 5º Distrito Naval.
- Após o encerramento das atividades, no local, funcionaram por alguns anos o bar Arataca, o restaurante Pier 54 e até um cabelereiro.
- Em 2014, retroescavadeiras colocaram abaixo o que restava das intervenções arquitetônicas do estaleiro Arataca. Ficou em pé o casarão que funcionava como escritório principal da empresa.
- Saiba mais na reportagem “A história do mais importante estaleiro de SC – Último vestígio do Arataca está em ruínas na Beira Mar“
- Na manhã do dia 13/08/2024 o último indício do estaleiro, a casa onde operava seu escritório principal, foi demolido. O edifício, de acordo com o Ministério Público de Santa Catarina, servia como ponto de uso de drogas e outras atividades irregulares e representava riscos à saúde pública. Veja matéria “Fotos mostram demolição do Estaleiro Arataca em Florianópolis“.
- Para conhecer a história completa até hoje, veja matéria “Onde os navios eram construídos e reformados em Florianópolis” ou leia o livro “Carl Hoepcke – A marca de pioneiro” escrito em 1999 por Sara Regina Poyares Reis (autora).

Espero que tenha gostado pois, cada embarcação clássica tem uma história única para contar e que pode servir de referência e consulta para historiadores, pessoas e instituições interessadas, antigos e novos proprietários e o público em geral, promovendo assim a rica e as intrigantes histórias associadas a esses clássicos e preservando e aumentando assim seu significado cultural para as gerações futuras.
Bons ventos!
Max Gorissen
Velejador. Escritor.
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