Tenho como sonho um dia poder implementar uma iniciativa para preservar o patrimônio náutico brasileiro… por isso, já pensando em algum dia poder implementá-lo, além do Cadastro de Veleiros Clássicos, decidi pesquisar e escrever artigos sobre diversos assuntos relacionados à vela brasileira, entre eles, os veleiros desenvolvidos no Brasil… é sobre isso que irá encontrar informações no texto abaixo… caso possa colaborar com informações ou registros históricos, entre em contato. O que não podemos deixar acontecer é essa história se perder.
Max Gorissen – Velejador. Escritor.
O veleiro da classe Light Crest é um projeto de Germán Frers Sr., concebido no ano de 1952.
Com 24 pés e 8 polegadas, com linhas do casco muito parecidas com outro design de Frers Sr., o veleiro da classe Grumete, foi desenhado depois de Frers Sr. ter lido sobre o “J.O.G. Design Competition” (Junior Offshore Group), um concurso de design organizado pela revista britânica Yachting World, e realizado no final do ano de 1952.
O projeto de Frers Sr., na opinião dos jurados do concurso, terminou em segundo lugar (o primeiro colocado foi um veleiro “inglês” de 16 pés chamado Giselle), contudo, para o público da revista, admirados com as inovações de design do Light Crest, foi este que venceu a competição, transformando-se imediatamente em um sucesso comercial, tendo várias centenas (sim: x 100) de unidades construídas na Grã-Bretanha e na Itália, sem contar na Argentina e em outros países, inclusive o Brasil, durante a década de 50.
Suas inovações de design (na época), tinham como premissa: ser um veleiro fácil de velejar, muito seguro e extremamente rápido, além de “ótimo” para iniciantes.

Na época, German Frers Sr., em reportagem veiculada na revista Yachting World de fevereiro de 1953 (capa ao lado), esclareceu; “O Light Crest foi projetado com um casco que utiliza “chines” (junções retas em vez de arredondadas do casco), o que proporciona boa estabilidade com deslocamento leve e pequenas volumes de lastro, acarretando linhas longas, cockpit seco e reserva de flutuabilidade.
Se construído corretamente, o casco é muito forte e possibilita deslocamento leve, com construção simples e econômica.
O leme separado da quilha também é outra inovação que, para barcos pequenos, proporciona um bom controle ao navegar livre em mar agitado.

Como não possui spinnaker, optei por uma configuração de sloop, que é simples, barata e excelente no contra-vento. Uma vela de tope na proa diminuiria o tamanho da vela mestra.
A construção é simples, sem limitações nas possibilidades de construção.
Cascos de camada simples e madeira curvada, cascos de camada dupla e madeira curvada, cascos moldados ou até mesmo um casco de liga metálica, são todos possíveis; ao desenhar o veleiro, tentei visualizar as necessidades tanto do construtor amador quanto do pequeno estaleiro.
A quilha de lastro leve é uma economia.
Duas das camas são posicionadas mais a popa onde o movimento é menor. A água é mantida fora da cabine por uma capota de lona e cortina. Ventilação do tipo “Dorades” ajudam na circulação de ar enviando vento para quem estiver na cabine.
A mesa de navegação ocupa muito espaço, assim como o navegador, sentado ou ajoelhado, tanto faz. Na marina, a mesa de navegação serve também como mesa para cozinhar.
Anteparas estanques proporcionam flutuabilidade superior à necessária.“1

Infelizmente, muitos desses veleiros se perderam ao longo dos anos, mesmo na Argentina, contudo, ainda existem vários exemplares na Inglaterra, Itália e, alguns, na Alemanha, Tasmânia, Austrália e Brasil.
No Brasil, pelo que pude apurar, foram construídos 6 veleiros dos quais apenas dois sobrevivem ainda hoje; o Keaka-Malía e o Typhoon.
O mais famoso de todos os Light Crest brasileiros, o Sea Bird, pertenceu a Roberto de Mesquita Barros, o Cabinho, com o qual realizou, junto com sua esposa Eileen Barros, a viagem descrita em seu livro “Do Rio a Polinésia”. Após a travessia, o veleiro foi vendido na Polinésia.
Roberto e Eileen Barros partiram do Rio de Janeiro no veleiro Sea Bird com destino à Nova Zelândia, e chegam ao Taiti em 1968, onde param porque sua filha Astrid chegara a este mundo. Esta é uma viagem verdadeiramente pioneira para a época, contada com humor incomparável por Roberto Barros neste livro delicioso.
No livro, além de descrever e ilustrar a realidade do dia-a-dia dos velejadores da época, sem nenhuma tecnologia para ajudar (ou será para atrapalhar?), Roberto e Eileen conseguem escrever um belíssimo relato de uma aventura de coragem e determinação, vivida por eles nos anos 60… quer fazer uma viagem pelos mares? Leia o livro! … vale a pena!!!

O Sea Bird, que antes se chamava Pellicano (pertenceu ao famoso velejador Roberto Pellicano), foi construído pelo Estaleiro do Sr. Jorge Horácio Añel, localizado em Eldorado, na Represa Billings em São Paulo.
Jorge Añel, sabe-se, construíu 5 dos veleiros Brasileiros: o Atrevido, o Barlavento, o Keaka-Malía, o Sea Bird e mais um que não consegui identificar o nome, mas que foi visto por Jackson Bergamo, construtor e arquiteto naval, proprietário desde 1977 do Keaka-Malía, em uma poita em Niteroi. Segundo seu relato; “o veleiro, depois de um tempo sumiu e nunca mais se soube dele“.
O sexto veleiro, o Typhoon, foi construído em 1958 no Estaleiro do Sr. Manuel Vareta no Espírito Santo para a família Brown. O veleiro, continua na família até hoje e se encontra no ICES, em Vitoria – ES.
Leia a história e aprecie as fotos de cada veleiro clicando no link do seu nome.
Especificações
- Modelo: Light Crest 25′
- Período de fabricação no Brasil: 1952 – 1960
- Estaleiros Brasileiros: Estaleiro do Sr.Jorge Horácio Añel em São Paulo e Estaleiro do Sr. Manuel Vareta no Espírito Santo.
- Armação/ Tipo: Sloop
- Material do casco: Os veleiros podem ser construídos de um misto de técnicas, tabuado, madeira laminada (cold molded) ou strip. No projeto original, German Frers Sr. também considerou a construção em aço, apesar de que todos os veleiros deste modelo terem sido construídos em madeira.
- Motorização: O projeto original não contempla um motor de centro.
- Tripulantes: 3
- Comprimento: 7,56 metros ou 24,8 pés
- Linha d’água: 19,5 pés
- Boca: 1,96 m
- Calado: 1,02 m
- Área velica:
- Mestra: 145 sq ft
- Genoa: 105 sq ft
- Buja 1: 70 sq ft
- Buja 2: 48 sq ft
- Storm Jib: 24 sq ft
- Trysail: 60 sq ft
- Balão: 103 sq ft.
- Deslocamento: 1350 kg
- Projeto: German Frers (pai) – Viamonte 176, Buenos Aires, Argentina – projeto de 1952. Site: https://germanfrers.net/
- Observações: O projeto do Light Crest foi premiado no “J.O.G.Design Competition” de 1952 pela revista Yachting World, que também divulgou seu plano de construção na sua edição de fevereiro de 1953.
Planos



Veleiros Brasileiros conhecidos
No Brasil, pelo que pude apurar, somente foram construídos 6 veleiros, dos quais apenas dois se sabe que existem até hoje: o Keaka-Malía e o Typhoon.
| Nome | Ano | Numeral | Outros nomes |
|---|---|---|---|
| Atrevido | |||
| Barlavento | |||
| Keaka-Malía | Aida | ||
| Sea Bird | Pellicano | ||
| Typhoon | 1958 | ||
| ? |

Estaleiros
Os Light Crest foram construídos por basicamente dois estaleiros no Brasil:
- Jorge Horácio Añel – Arquiteto e construtor naval (desenhou o IAT do Amyr Klink), argentino radicado em São Paulo, tinha seu estaleiro em Eldorado, às margens da represa Billings em São Paulo – SP.
- Estaleiro Vareta – de propriedade do mestre carpinteiro naval, o Sr.Manoel da Rocha Rodrigues, mais conhecido como Manuel Vareta, o estaleiro, que construíu vários veleiros de oceano, ficava localizado em Vitória – ES.
Vídeos
Matérias da época
Artigo na revista Yachting World na edição de fevereiro de 1953. Copyright Yachting World – Acervo Jackson Bergamo – Fotos: Max Gorissen

Depoimentos e contribuições para esta matéria
Jackson Bergamo por WhatsApp e pessoalmente em 18/11/2025
Seguem fotos do Atrevido e do Keaka-Malía (que está inteiraço!). O meu, o Keaka-Malía (significa Jack-Mary, meu nome e da minha esposa, no idioma Polinésio Havaiano), quando reformei, não tinha os planos e tive de “imaginar” uma cabine. Meu veleiro é construído pelo método “Cold Molded”, com as lâminas que se cruzam. Ao todo, no Brasil, foram fabricados 5 veleiros da classe Light Crest. Um dos cinco, não lembro o nome, eu cheguei a ver em uma poita em Niteroi mas, depois de um tempo, sumiu e nunca mais soube dele. O Sea Bird do Cabinho ficou na Polinésia. Um outro que cheguei a conhecer, o Barlavento, era de Santos e veio para o Clube do Castelo mas, como tinha sido todo revestido com vibra de vidro e poliéster, apodreceu por inteiro e, depois de um temporal, ficou batendo no trapiche e teve um grande rombo no costado. Foi levado para uma poita, onde ficou por um bom tempo e, um dia, afundou. Ví quando tentaram arrastar o casco para a rampa com um guincho mas o veleiro veio todo despedaçado e só sobrou o lastro. O Atrevido, que também se perdeu, já com um novo dono, o barco sofreu grande avaria quando foi erguido de forma errada e, ao ser descarregado na parte de baixo do clube ASBAC por um caminhão comum sem rampa, o barco escorregou da rampa adaptada com muita inclinação, saindo o casco na metade da carreta e, por este motivo, como já estava com o madeirame muito frágil, quebrou ao meio. Foi comprado por alguém na represa que iria restaurá-lo mas fiquei sabendo que apodreceu. Também envio uma foto de um veleiro que tirei de um anúncio lá na Argentina com a cabine original. Esse veleiro Argentino tem uma borda falsa elevada que dá um “charme” todo especial ao veleiro. Segue também foto do Light Crest no livro “El Deporte de la Vela por Juan Baader”.
Guillermo Willi Mengel por Facebook em 30/11/2025
Muy bueno! El Light Crest está en el club Regatas la Plata. Es de un amigo mío. Hace unos años lo ayude y le hicimos la popa y la roda nueva.

Luis Nin por Facebook em 01/12/2025
Estimado Max. El velero de la segunda foto de tu artículo, es el Lightcrest original, que precisamente se llamaba “Lightcrest”. La foto fue tomada en 1976 en la bahía de Punta del Este por su entonces propietario Nicanor Zapiola (desde un gomon), y quien va timón es Cristian Gall. Si buscas por la palabra LightCrest en este grupo, vas a encontrar muchos mensajes vinculados a esta clase y a varios barcos de la misma, especialmente argentinos. Cordial saludo.
Sebastián Perez por Facebook en 30/11/2025
Foto de la construcción de tres “Light Crest” en el bajo de San Isidro.
Los hizo Alfredo I. Sampayo, que en esta mañana lluviosa estaría cumpliendo 89 años.
Datos: Horacio Ezcurra, que su padre junto a un socio habían encargado uno, me dijo que los que figuran en la foto son el “Light Crest”, “María” y “Gruya”. Me comentó también que cuando él era chico en esa sin fin le cortaron una pistola para que jugara en las visitas a la construcción con su familia. Esa misma “sin fin” tiene rueditas porque se movía ante las clásicas crecidas del río.
Me dijo el señor Porto, amigo de aquella época, que él lo había ayudado con el trazado.
A modo personal: Dicen que con el pasar del tiempo pesan más los buenos recuerdos que los malos – como será en su momento para nosotros mismos – y lo creo cierto. Él era mi abuelo, con quien pasé de los mejores momentos aún teniendo encontronazos en igual medida… pero hoy, pasado los años, le dedico unos mates mientras pienso que cosa no haría por estar hablando de barcos con el aroma del cedro recién cepillado de fondo.
Tengan un buen Domingo.

Facundo Canali en los comentários – 03/12/2025
Hola, soy el propietario del velero Light Crest A-398, el primero que se construyó, lo tengo hace 17 años, es barco escuela de @argosnavis_sn
Paso por un proceso de restauración de 2 años y medio con la ayuda de Guillermo “Willi” Mengel (propietario del Dorado B “Zorba” diseño de German Frers).
Actualmente está en el Club Regatas La Plata y lo pueden ver navegando siempre.
Saludos! Facundo Canali
Links e referências bibliográficos e informativa
- Revista Yachting World, edição de fevereiro de 1953. Site: https://www.yachtingworld.com/
- Jackson Bergamo, construtor e arquiteto naval, proprietário do Keaka-Malía desde 1977.
- Livro “German Frers: A passion for design” de Barry Pickthall.
Agradecimentos
- Jackson Bergamo, construtor e arquiteto naval, proprietário do Keaka-Malía desde 1977.
Espero que tenha gostado pois, cada embarcação clássica tem uma história única para contar e que pode servir de referência e consulta para historiadores, pessoas e instituições interessadas, antigos e novos proprietários e o público em geral, promovendo assim a rica e as intrigantes histórias associadas a esses clássicos e preservando e aumentando assim seu significado cultural para as gerações futuras.
Bons ventos!
Max Gorissen
Velejador. Escritor.
Notas de Rodapé (também incluídas no texto acima em Links e referências bibliográficos e informativa)
- Trecho extraído e traduzido do artigo na revista Yachting World, edição de fevereiro de 1953, fornecida por Jackson Bergamo ↩︎
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¡Gracias, Facundo, por la información! ¡Te felicito por tu velero y por usar esta joya con regularidad! Ya he incluido tu comentario en “Testimonios” para que quede registrado. ¡Saludos!
Hola, soy el propietario del velero Light Crest A-398, el primero que se construyó, lo tengo hace 17 años, es barco escuela de @argosnavis_sn
Paso por un proceso de restauración de 2 años y medio con la ayuda de Guillermo “Willi” Mengel (propietario del Dorado B “Zorba” diseño de German Frers).
Actualmente está en el Club Regatas La Plata y lo pueden ver en navegando siempre.
Saludos! facundo Canali