Nos últimos anos, viajando por diversas regiões do Brasil, uma constante em minhas viagens tem sido a presença de veleiros abandonados. São barcos em diversos estados de abandono e conservação, desde aqueles apenas cobertos por sujeira até os integralmente podres, passando pelos totalmente desfigurados.
É uma pena ver tantos veleiros que um dia deram tanta felicidade a seus proprietários e amigos, abandonados e apodrecendo.
Alguns ainda têm a sorte de ser recuperados por alguém interessado em um bom projeto de restauração e disposto a investir algum ou muito dinheiro para que uma embarcação volte a velejar. Outros são simplesmente esquecidos, ou transformados em algo que remotamente lembra o que ele foi um dia, ou, ainda, apodrecem e desaparecem.
A doença do “este barco dá para restaurar fácil e barato”
Existem muitos veleiros que quase voltaram a velejar, pois alguém viu neles essa possibilidade, mas acabaram sendo novamente abandonados, por diversos motivos.
Há uma doença, de nome comprido, que acomete certos homens (também mulheres, mas os homens sofrem mais dela), tirando completamente sua razão quando veem um veleiro abandonado ou em mau estado: a doença do “este barco dá para restaurar fácil e barato”.
O interessante é que a pessoa contaminada não percebe a doença e não aparenta nenhum de seus sinais, ao contrário, seu raciocínio parece lógico e realista. Ela é capaz de explicar de maneira sensata, clara e convincente a sua decisão de restaurar um veleiro “velho” e em mau estado. É uma doença contagiosa – tome muito cuidado quando vir um veleiro abandonado!
Aparentemente, são pessoas equilibradas, legais, inteligentes, com condição financeira estável e, em muitos casos, são experientes velejadores de regatas ou cruzeiros. Pode-se até dizer que, em sua maioria, essas pessoas possuem uma personalidade aventureira, sonhadora e livre, o que as torna altamente agradáveis, atraindo outras pessoas e facilitando a disseminação da doença.
O maior problema dessa doença é que a pessoa possui uma compreensão pouco realista tanto de suas finanças quanto do tamanho e do tempo necessário para se terminar o projeto. Qualquer um que é imune a essa doença sabe: veleiros abandonados, em qualquer estado de conservação, absorvem e requerem muito dinheiro, tempo e dedicação.
Mesmo assim, há um êxtase ao se pegar essa doença e iniciar o projeto. E o que é pior: enquanto a doença perdura, ela é altamente gratificante para quem a pegou. Poderíamos afirmar que é viciante. Você vê esse veleiro, que na sua concepção é lindo e uma oportunidade única de ter uma “joia rara dessas na vida” e, simplesmente, do nada, é seu devoto incondicional. Até o momento em que acaba o dinheiro… Sim, normalmente a falta de dinheiro é a única cura dessa doença.
Após a cura, com suas finanças em ruínas, você tem de trabalhar muito e por muito tempo para se recuperar definitivamente dos efeitos da doença e restabelecer suas finanças. Mas cuidado, uma vez recuperado, existe grande possibilidade de recaída: é só ver outro veleiro em péssimo estado e estar com as finanças recuperadas que os sintomas certamente se repetirão. O vírus fica no sangue apenas aguardando uma oportunidade de voltar a se manifestar.
Desses veleiros, são poucos os que voltam a velejar e retornam a seus dias de alegria.
Agora que você está informado e consciente da doença, olhe as fotos com cuidado. Tem muito veleiro abandonado que dá vontade de restaurar…
OBS: As fotos abaixo representam apenas uma pequena amostra dos veleiros que encontro abandonados e foram tiradas antes de março de 2018 e, por esse motivo, não é certo de que os veleiros ilustrados ainda estejam abandonados na data em que você estiver lendo este artigo.




























Bons ventos!
Max Gorissen
Velejador. Escritor.
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