A paixão pela vela e pelos veleiros começou cedo e me lembro como se fosse hoje, o dia em que essa paixão teve início… Meu pai, Maximilian Immo Gorissen, gostava de velejar e fazia parte da equipe de regatas do veleiro oceânico de nome Rajada II, um Standfast 40, construído em 1973 pelo estaleiro de mesmo nome, com projeto de Franz Maas.
Num dos fim de semana de treinos, meu pai me levou com meu irmão para velejar com a equipe e fiquei maravilhado, tanto com a agitação durante o treino, quanto com a paz e a calma da navegada ao voltar à marina. Nesse dia, o proprietário, deixou meu pai, meu irmão e eu pernoitar no veleiro e, naquela noite, foi que a paixão surgiu. Gostei tanto de estar no veleiro, rodeado pelo mar e o ambiente da vela que, desde então, meu objetivo passou a ser velejar, ter um veleiro e fazer parte desse estilo de vida.


Mas minha vida em um veleiro começou vários anos depois, no ano de 1986 (ver carteirinha de federado FEVESP abaixo), quando comecei a velejar como “baloneiro” no veleiro da classe Lightning de nome “Brisa“, sob o comando do saudoso Luiz Planas. O veleiro ficava guardado no CDMI – Clube Deportivo Municipal de Iatismo – na Represa de Guarapiranga.

Recordo claramente que no primeiro dia que saímos para velejar, estava totalmente escorado para evitar do veleiro adernar, com a cabeça praticamente raspando a água quando olhei para a proa e ví que avançávamos para o que parecia ser uma sacola de couro marrom bem estufada e com quatro patas apontando para o céu boiando bem a frente. Só deu tempo de levantar o corpo e a cabeça passou raspando nas pontas das patas… foi naquele momento que descobriria a poluição das águas da Guarapiranga que, com o tempo, me forneceram todos os anticorpos necessários para sobreviver nelas… de qualquer maneira, tirando a sujeira da represa, “balonar” um Lightning é uma das experiências mais demandantes e gostosas que se tem num dinghy. Entrar num través com vento, com os três tripulantes, proeiro, baloneiro e timoneiro, com o corpo para fora escorando para manter o veleiro sem adernar e “bombando” a escota do balão para que o veleiro acelere nas marolas, é uma das sensações mais gratificantes que já senti num veleiro. Outra lembrança muito prazerosa é que terminamos o ano de 1986 como Campeões Paulista Lightning “B”.
No ano seguinte, querendo velejar sozinho e apaixonado pelo windsurf, que via passando rápido por nosso Lightning, comprei minha primeira prancha na famosa loja de equipamentos Team Brasil, de propriedade de duas pessoas fantásticas, o Marcão e a Tânia, que ficava localizada na Avenida dos Bandeirantes.
O dinheiro, curto na época, deu para comprar uma antiga prancha Windglider, mas fiz um esforço orçamentário extra, ou seja, fiquei endividado no cheque especial e incluí um conjunto novo de retranca, mastro, pé de mastro e uma linda vela colorida vermelha, laranja, branca e azul.
Ainda lembro como se fosse hoje o primeiro dia que saí com meu “novo” windsurf.

Naquele dia, ventava forte e eu velejava há horas por toda a represa quando, em um momento, perto da Ilha dos Amores, de repente, a prancha fica desgovernada. A popa não segue mais o rumo e gira, me obrigando a compensar com o corpo para a vela não cair na água. Pensei de imediato: perdi a quilha. Fato constatado, sozinho, cansado após horas velejando, como seria meu costume a partir daquele primeiro dia, comecei a pensar em como voltaria ao hoje extinto Clube Desportivo Municipal de Iatismo (CDMI).
Remar, nem pensar. Quem teve uma Windglider e tentou remar com o corpo apoiado sobre o mastro/ retranca/ vela sabe como era desconfortável. Tinha de me virar para sair dali. Não havia chances de resgate, pois eu estava sozinho naquela área da represa. Ir para terra, apesar de perto, não era uma opção. Lembro que pensei um pouco e a solução veio rápido: quando perdi a quilha, havia realizado vários movimentos com o corpo e com a vela para não cair na água. Ali estava a solução. Fiquei de pé na prancha, subi a vela e tentei manejar sua posição e seu ângulo, concomitantemente com a posição do meu corpo, para continuar velejando. Após algum tempo, consegui identificar os movimentos certos e, em ziguezague, com pequenos giros do corpo e do mastro sobre a bolina, movimentos que passaram a ser quase que naturais, velejei em direção ao CDMI.
Após umas duas horas, cheguei ao clube exausto e “quebrado”, por causa do movimento de corpo e de braços. No entanto, a sensação de chegar, sem assistência e sem depender de ninguém, utilizando somente meus próprios meios, foi o que me fez, naquele momento, amar velejar sozinho. Cheguei cansado, porém calmo e realizado.
Após a Windglider, tive várias pranchas de Slalom, Funboard e Raceboard, todas, com o numeral 123.
As pranchas e as velas (algumas que encontrei fotos)







Viajei várias vezes para Ilhabela para velejar na Ponta das Canas e participei de vários campeonatos, inclusive, vencendo a Copa Finasa de Vela de 1992 na categoria “Raceboard B” (veja súmula e fotos abaixo) e o Campeonato Paulista de Raceboard B de 1992.












Hobbie Cat 16 – Bad Max – Numeral: 30259
Um dia, indo para o CDMI pela Avenida Robert Kenedy (atual Atlântica), ví um HC-16 amarelo abandonado em um terreno que servia de estacionamento na margem da represa. Parei imediatamente e fui conversar com a pessoa que cuidava do estacionamento que me informou de que o veleiro era dele, mas que não tinha documentação, pois o veleiro havia sido entregue como parte de pagamento de uma dívida. Mesmo assim, me propus a comprar o veleiro pois, força do destino, um amigo havia dito estar interessado em comprar minha prancha Mistral e que, por incrível que possa parecer, valia o mesmo que o HC-16 e a carreta rodoviária, que também não tinha documento e nem placa. É obvio que o preço do veleiro, que vinha com a mastreação completa e um jogo de velas velhas, e da carreta, se devia ao estado “um pouco, bastante, muito” abandonado de ambos mas, não me importava. Finalmente teria meu veleiro!
Bem, resumindo, vendi a prancha Mistral com todos os equipamentos e, no dia seguinte, fui comprar o HC-16… tudo muito simples e sem complicações. Então, dias depois, instalei um engate para o reboque da carreta no meu carro e retirei o veleiro levando o mesmo para o CDMI, que ficava a apenas uns dois quilómetros de onde o veleiro estivera abandonado. Posteriormente, tive de fazer todo um procedimento burocrático para regularizar o veleiro, que dei o nome de “Bad Max”, e também da carreta, mas o veleiro era meu. Depois vieram as despesas com peças, roldanas, dois novos trapézios, um trampolim e um par de “maravilhosos” lemes de madeira fabricadas pelo Flório. Um ano depois comprei um jogo novo de velas importadas que custaram uma fortuna! Tudo comprado do saudoso Tom, da Tom & Cat.



No início do ano 1999, o nível de água da represa de Guarapiranga baixou a tal ponto que ficou impossível velejar nela. Além de precisar puxar o veleiro pela lama por uns 100 metros para chegar na água, com as pernas afundando praticamente até os joelhos, na pouca água que sobrou, os lemes batiam nos “tocos” dos troncos das árvores que não haviam sido cortadas e retiradas quando se construíu a represa… Bem, com a represa seca e, agora casado e revezando os finais de semana entre a represa para velejar e o lazer no Clube Samambaia no Guarujá, onde minha esposa Zabetta tinha um apartamento, decidi vender o Bad Max… A venda, feita pelo Tom, foi rápida pois o veleiro estava em excelentes condições e tinha muita demanda na época por veleiros para os novos proprietários de casas localizadas nos novos condomínios às margens das represas no interior de São Paulo. Fiquei então sem veleiro.
Ranger 26 1983 – ORM – BRA 920 – Mais sobre o ORM, acesse sua página clicando aqui.
Bem, fiquei sem veleiro por somente seis meses pois minha esposa Zabetta chegou para mim um dia e simplesmente disse; “Max, te amo de paixão, mas, pelo amor de Deus, compra outro veleiro pois não te aguento mais!“… não preciso dizer que, já no final de semana seguinte ao comentário, agora viajando toda sexta-feira para passar os finais de semana no Guarujá, fomos visitar as marinas procurando um veleiro. Meu objetivo era comprar um veleiro monocasco oceânico entre 23 e 26 pés.
A primeira marina que visitamos foi a Supmar e foi onde encontrei o Ranger 26 de nome Pitula. Foi paixão a primeira vista, contudo, decidimos ver outras opções e continuamos procurando por veleiros em outras marinas. Não teve jeito e, como sempre digo, “o veleiro sempre escolhe seu dono” e, o Pitula, que seria renomeado Orm (que significa Serpente em Dinamarquês e que faz parte do meu nome), “me havia escolhido”… e eu a ele.



Comprei o veleiro no dia seguinte, domingo 20 de novembro de 1999, fechando o negócio durante o almoço com o Caio, seu proprietário, no restaurante da Supmar. Após o almoço, já tendo comprado o veleiro, saímos eu e o Caio para fazer um teste de mar. O veleiro, apesar de não haver velejado desde que o Caio o comprara, se portou muito bem. O motor, um Yanmar 1GM que havia sido instalado novo havia uma semana, também desempenhou maravilhosamente. Obvio, para um velejador como eu, haviam vários problemas que deveriam ser solucionados, entre eles; velas novas, moitões novos, cabos e adriças novos, um novo interior, uma nova pintura de deck, costado e fundo, revisão total de mastreação, troca de brandais e estaiamento… bem, tinha de restaurar e renovar o veleiro inteiro… até o motor, que achei precisava ser reinstalado com um novo eixo e hélices pois os atuais eram do motor MOD original e achei que precisavam ser trocados… resumindo, o veleiro, dois anos depois que levei para a Marinas Nacionais, instalada na Serra do Guarurú no Guarujá, ao longo do Canal de Bertioga, foi tirado da água para uma reforma completa! Saiba mais sobre o ORM clicando aqui.
Depois de 18 anos com o Orm na Marinas Nacionais no Guarujá, comprei o FyC 40 – Gaia 1 (veja abaixo) e, sem um veleiro na represa, pois havia vendido o Laser Sea Breeze (veja abaixo), decidi levar o Orm para a represa. Velejei com ele por uns meses na represa, contudo, o calado do veleiro era um empecilho pois tinha muito lugar que não dava para velejar. Sem contar que cada vez menos ficávamos em São Paulo nos finais de semana, pois viajávamos para o Guarujá onde havíamos comprado uma casa em um condomínio e velejávamos durante o dia com o Gaia 1. Assim, dia 12 de maio de 2015, vendi o Orm para o Leandro, um velejador do sul que vivia em São Paulo.
Laser – Sea Breeze
O Sea Breeze, um Laser Standard fabricado em 1989 e originalmente chamado “La Gata Flora”, foi um presente do Sr. Alberto, um Argentino que vivia em uma casa perto da minha no condomínio Jardim Albamar no Guarujá.
Já com uma certa idade, ele já não usava mais o veleiro, que ficou abandonado no corredor de fora da casa dele e estava se deteriorando, a tal ponto que a junta do casco estava abrindo.
O Sr. Alberto comprara o veleiro novo e, junto com seu filho, velejaram por muitos anos com o veleiro pelo Guarujá, principalmente na praia de Pernambuco, onde o veleiro ficava guardado em uma marina instalada na época bem no canto da praia na baía do mar casado (acho que se chamava Aquilamaris).



De qualquer maneira, sabendo da minha paixão por vela e veleiros e, sabendo que reformaria e cuidaria do veleiro, ele me presenteou com o mesmo.
Imediatamente mandei o veleiro para o Passarinho, prestador de serviços de reforma e manutenção de embarcações na Marinas Nacionais, para reformar e pintar o veleiro, adquirindo, inclusive, uma nova vela do Tom, da Tom & Cat. O veleiro foi levado para o YCSA na represa de Guarapiranga, onde passei a velejar nos finais de semana que não íamos para a praia.
Optimist King-Harken (do Maxy)
Um dia de maio de 2010, dei uma passada por um brechó náutico que havia na avenida em frente ao morro Sorocotuba no Guarujá e ví um casco King-Harken de Optimist bem desgastado a venda… não tive dúvidas, estava com minha Pickup S-10 e comprei o veleiro no ato, colocando o mesmo na caçamba, que encaixou certinho, trazendo o mesmo para São Paulo.


Foi um presente para o meu filho, também Maximilian, que tinha 8 anos na época e ficou muito feliz e entusiasmado pois fazia aulas de vela todo domingo no YCSA.
Como de costume quando se trata de dinghy, levei o veleiro no dia seguinte para o Tom, da Tom & Cat, que instalou tudo, tudo mesmo, pois como só tinha o casco e realmente faltava “tudo” no veleiro.
Meu filho velejou por um tempo no veleiro mas depois desanimou de velejar… acho que forcei um pouco a barra na vela e ele queira fazer outro esporte, a esgrima, e continuar velejando em veleiro de oceano… compreensível… vendi o veleiro no ano de 2011 para um amigo que velejava na mesma escolinha de vela do YCSA do Maxy.
FyC 40 1987 Gaia 1 – Mais sobre o Gaia 1, acesse sua página clicando aqui.
No dia 14 de outubro de 2014, lá pelo fim da tarde de um dia de trabalho, aliás, pelos print-screen que verá abaixo, eram aproximadamente às 17:30 hs, tinha parado de trabalhar e estava navegando pela internet quando me deparei com um anúncio de lindo veleiro de cor azul clara.
Era um anúncio de venda do broker CL BARCOS do Rio de Janeiro.
Imediatamente cliquei no link e pude apreciar o maravilhoso design.
Era o mesmo design do meu veleiro Mariner Ranger 26 de nome ORM, só que maior, e o mesmo design do veleiro FyC 40 de nome Magic, que sempre foi minha paixão e sonhava em encontrar um igual para comprar.
Bem, não preciso dizer de que me apaixonei pelo veleiro e, como diz o ditado; não é o dono que escolhe o barco e sim o barco que escolhe o dono e, por isso, o veleiro anunciado de nome Gaia 1, na minha mente, já tinha me escolhido e já era meu.
Mandei o link do anúncio para a Zabetta com os seguintes dizeres: “Vamos fazer uma loucura?”
E ela respondeu, para minha surpresa: “Vamos! Vou estar no Rio de Janeiro para um evento semana que vem e vou ter a sexta-feira livre. Por que você não aproveita e se encontra comigo no Rio de Janeiro e vamos ver o veleiro juntos?” … incrível quando tudo conspira… na realidade, a cor favorita da Zabetta é exatamente esse tom de azul e, só de ver as fotos, ela também havia se apaixonado pelo veleiro.
Fotos do anúncio:







No dia 9 de outubro de 2014, peguei o voo Gol (Localizador: JY5FTY) das 12:10 hs com destino ao Rio de Janeiro.
A Zabetta ficaria no evento até as 18:00 hs e aproveitei o dia para passear pelo Rio de Janeiro.



No dia seguinte, acordamos cedo e fomos ao Iate Clube do Rio de Janeiro onde havíamos agendado de ver o veleiro com o pessoal da CL Barcos. Pegamos a “catraia” que nos levou ao veleiro, apoitado na baía de Guanabara. Foi só visualizar o Gaia 1 na poita (primeira foto acima), que já decidimos comprar o veleiro. Agora era ver o que precisava fazer (todo veleiro, por mais perfeito que digam, sempre precisa fazer algo) e, no caso do Gaia 1, saí com uma lista de 53 ítens (tenho até hoje os ítens listados em um “notes” no meu celular)… nada que mudasse a decisão, só precisaria tentar uma negociação no preço pois, o veleiro, “já era nosso”.
Compramos, mas não levamos, pois teríamos de fazer todo o estaiamento novo no veleiro e isso demoraria pelo menos um mês… o que não foi um problema pois, nesse mês, velejei no Gaia 1 pela bela baía de Guanabara mesmo sem mastro… foi só no sábado, 20 de Dezembro de 2014, que levamos o veleiro para o Guarujá. Leia “A primeira travessia com o Gaia 1 do Rio de Janeiro até Santos“.
O Gaia 1, após diversas viagens que podem ser lidas no BLOG neste site, se encontra em Paraty (2024).
Sharpie 12 m² 1956 – Gabiru – BRA 654 – Mais sobre o Gabiru, acesse sua página clicando aqui.
A história da compra do Veleiro Gabirú Sharpy vem se formando faz alguns anos.
Tudo começou quando estava escrevendo uma matéria para a SailBrasil sobre os Sharpies e conversei com o Gustavo Pacheco que, além de me contar muito da história desta classe e fornecer vários materiais, me disse que o veleiro do saudoso Antonio Luis Galvão do Rio Apa (falecido), o Gabirú Sharpy – numeral BL-654, construído pelo estaleiro Flório em 1956 estava a venda em Niteroi – RJ e me passou o telefone do Luiz Amaro Veiga, com quem o Rio Apa velejou por vários anos, informando de que ele poderia me passar maiores informações.

Na época estava totalmente comprometido com reformas e melhorias no Gaia 1 (ver acima), meu FyC 40 1987 e, apesar de interesse, não tinha como comprar outro veleiro.
Como sempre digo que acontece com veleiros antigos, “não é você que escolhe o veleiro e sim o veleiro que te escolhe” e, o Gabiru, certamente me escolheu como seu próximo cuidador, afinal, na verdade, você nunca é dono de um veleiro… você apenas cuida dele para as próximas gerações.
Para não me alongar na história, que pode ser lida na integra na página do Gabiru, em março de 2024, decidi de que eu seria seu próximo proprietário… entrei em contato com o Luiz que me informou de que o veleiro ainda estava a venda e pedi que me mandasse fotografias… bom, para resumir, dia 13/03/2024, comprei o veleiro e, dia 17/04/2024, depois de um trabalho fantástico do Luiz Amaro Veiga, a quem agradeço, por ter resolvido diversas pendências que naturalmente surgem com um veleiro que está há 12 anos guardado sem uso em uma marina, o veleiro foi entregue na minha residência em São Paulo para uma pequena reforma antes de voltar para a água, agora doce, da represa de Guarapiranga.


Bons ventos!
Max Gorissen
Velejador. Escritor.
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