Inca

Especificações

  • Ano de fabricação:
  • Outros nomes:
  • Modelo: Sharpie 12m²
  • Classe: Classe Monotipo Sharpie 12m²
  • Estaleiro:
  • Armação/ Tipo: Caranguejeira na vela grande e buja.
  • Material do casco: Madeira
  • Categoria: Interior
  • Motorização: Nenhuma
  • Tripulantes: 2 pessoas
  • Numeral: BL 6
  • Comprimento: 19,65 pés ou 5,99 m
  • Linha d’água: 5,40 m
  • Boca: 1,43 m
  • Pontal: 0,53 m
  • Calado: 0,16 m (sem bolina) e 0,96 m (com bolina arriada)
  • Área velica (Mestra e Genoa): 14,92 m²
  • Área velica (Balão): N/D
  • Deslocamento: 230 Kg
  • Projeto: Karl Kröger, Hans Kröger e Walter Brauer (Yacht und Bootswerft Gebr. Kröger)
  • Proprietários: Alfredo Jorge Ebling Bercht (1947 – Veleiros do Sul), Fernando Caldas do I.C.R.J. (1951), Rolf Ebling Bercht (1956)
  • Observações: O Inca participou das Olimpíadas de Melbourne – Australia de 1956 (ver matéria abaixo) ficando em 10º lugar com Rolf Ebling Bercht e Alfredo Jorge Ebling Bercht.

Em 1932, um ano após o lançamento do veleiro Sharpie 12 m² na Alemanha, um grupo de iatistas do Iate Clube Brasileiro, no Rio de Janeiro, trouxe a planta da embarcação para o Brasil e formou a primeira flotilha da nova classe.

Sendo um veleiro muito rápido e estável para a época, para dois tripulantes, com uma inconfundível vela quadrangular e casco formado por uma área plana ao longo da quilha – uma inovação que os veleiros só vieram a implementar décadas depois –, o Sharpie rapidamente se espalhou pelo Brasil.

Em 1938, organizou-se o primeiro Campeonato Brasileiro da Classe Sharpie, que se repetiu bienalmente até 1960. Desse ano em diante, o campeonato passou a ser anual, até 1971, quando foi interrompido durante seis anos, retornando em 1978, na praia de Santos (SP). Suas três últimas edições foram realizadas em Niterói (RJ), em 2014, Nova Lima (MG), em 2015, e em São Paulo (SP), na Represa de Guarapiranga, em 2016.

A paixão pelo veleiro classe Sharpie – uma paixão inspirada pelo profundo apreço por sua beleza atemporal e seu incrível desempenho, me fez escrever sobre a história dessa classe no Brasil. Clique aqui para ler a história destes maravilhosos veleiros.

RegataPosição
Copa Ulisses Nardim – Porto Alegre 15 de janeiro de 1950 (regata só para mulheres)1º lugar com Liane Bercht no timão e Rosemarie Karl na proa
Regata Volta do Jacuí – 29 de janeiro de 1950 – Regata de longo percurso – Veleiros do Sul1º lugar
Campeonato Individual de Vela do Rio Grande do Sul – 8 e 9 de novembro de 19471º lugar com Alfredo Bercht e seu proeiro Rolf Bercht
Campeonato individual de 1949-1950 na raia do “Humaytá”, raia oficial do “Veleiros do Sul” –
18 e 19 de março de 1950
2º lugar Classe A com A. Bercht e J.Salvador com 1 primeiro e 2 segundos lugares
Campeonato Carioca de Vela de 19501º lugar com L.Buckup do Iate Clube do Rio de Janeiro
Regata do XIV Congresso Nacional de Estudantes – 29 de junho de 19512° lugar com Fernando Caldas do I.C.R.J.
Olimpíadas de Melbourne – Australia de 195610º lugar com Rolf Ebling Bercht e Alfredo Jorge Ebling Bercht (Inca – BL 6)
Regata Primavera – disputada por moças – 28/10/1951 – Lagoa Rodrigo de Freitas – RJ *1° lugar com Brigitte von Raumer e Anita Licht

* A 28 de outubro de 1951, realizou-se na Lagoa Rodrigo de Freitas, a Regata da Primavera, disputada por moças em barcos da classe Sharpie 12 m2, classificando-se em primeiro lugar “Inca”, com Brigitte von Raumer e Anita Licht. Em segundo “Ella” com Margreth Schmidt e Maria Auxiliadora e, em terceiro, “Maybe“, com Nely de Franco e Léa Motta Fernandes. Com o mau tempo que sobreveio durante a regata, quatro barcos viraram.

FONTE: ALFREDO JORGE EBLING BERCHT: O VELEJADOR BRASILEIRO NOS JOGOS OLÍMPICOS DE 1952 E 1956 – Materiales para la Historia del Deporte, n.º 25 (2023): 47-56 e-ISSN: 2340-7166 – 20-12-2023 – Autores: Carolina Fernandes da Silva – Universidade Federal de Santa Catarina, Bruna Letícia de Borba – Universidade Federal de Santa Catarina e Janice Zarpellon Mazo – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – https://doi.org/10.20868/mhd.2023.25.4860

… “A Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM), em 27 de junho de 1956, teve que decidir qual tipo de barco enviaria para as competições nos Jogos Olímpicos (JO) de 1956, visto que não poderia despachar um barco para cada categoria. Esta decisão estava atrelada a determinação do COB que só fosse enviado um barco com no máximo três tripulantes, possivelmente devido valor do transporte e o imposto pago para estes barcos entrarem e saírem do país-sede e o pouco recurso financeiro que a entidade alegava dispor para participar do evento esportivo. De tal modo, a opção foi pelo barco Sharpie (dois tripulantes) e um da classe Finn (um tripulante). A classe Star (dois tripulantes), na qual os competidores que tinham índice para ir aos JO eram cariocas, entrou com recurso, o qual foi publicado na integra pelo Correio da Manhã, jornal do Rio de Janeiro (“Correio da Manhã 1956, 4), visto que estes velejadores ficariam de fora da delegação brasileira. Disputas entre estados ocorridas a nível esportivo, por vezes eram transferidas para discussões internas em órgãos deliberativos dos esportes e publicadas em jornais (Silva, Bataglion e Mazo 2021).

Todavia, em resposta, a CBVM também publicou sua posição no referido jornal do Rio de
Janeiro e manteve a decisão, a qual foi tomada “levando em consideração que os indicados foram os primeiros a dar glórias internacionais ao iatismo brasileiro” (Kastrup 1956, 3). Se por um lado este posicionamento trouxe questionamentos sobre a escolha da classe Sharpie e argumentos em defesa da classe Star como a representante brasileira por outro demonstra uma competição entre os estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul para além do tempo e do espaço em que ocorre a disputa esportiva, identificada anteriormente em outros esportes náuticos por Silva (2015).

Dentre os argumentos dos velejadores da classe Star afirmava-se que o barco Sharpie não tinha as medidas oficiais para a competição (Correio da Manhã 1956, 4). Porém, em sua defesa, a CBVM afirmou que no dia da reunião para definição dos barcos que participariam dos JO, já tinha esta informação e, por isso encomendou um novo barco naquele mesmo dia, segundo o autor da nota (Kastrup 1956). No entanto, a discussão se prolongou e, na sequência foi publicada reportagem na qual Alfredo Bercht afirmou que utilizaria seu próprio barco, o Sharpie Inca e assumia a responsabilidade de este ter o patrão de barco exigido (Heizer 1956, 10). Talvez, esta publicação com a posição da CBVM tenha sido produzida com a intenção de amenizar a disputa argumentativa pela vaga. Outra possibilidade é que, ao perceber que a sua segunda participação nos JO corrigia o risco de não acontecer, o próprio Alfredo tenha disponibilizado o seu barco para garantir sua participação nos JO de 1956.

No mesmo texto, o autor da publicação (Heizer 1956, 10) busca na experiência do velejador os argumentos de apoio à escolha da CBVM eleva os leitores a crer que Alfredo Bercht “leva a grande responsabilidade de bem representar o Brasil na Olimpíada” e acrescenta “Sua experiência e classe de grande e veterano veleiro levam-nos a acreditar que fará sucesso extraordinário nos Jogos Olímpicos de Melbourne” (Heizer 1956, 10). Apesar da polêmica levantada e exposta na imprensa, a decisão da CBVM prevaleceu e Alfredo Bercht viajou para Melbourne juntamente com o Sharpie Inca. Este barco com 35 pés foi o primeiro de uma série barcos de Alfredo Bercht com a mesma denominação, seguindo uma tradição.

Nesta segunda participação nos JO, em 1956, Alfredo Bercht fez dupla com seu irmão, Rolf Bercht, com quem já competia desde a década de 1940. Eles ficaram em 10º lugar na classificação geral (COB 2004), uma posição atrás da edição anterior dos JO. A despeito do desempenho na competição, no retorno para o Brasil outro desafio foi enfrentado por Alfredo Bercht: o seu barco ficou preso na Alfândega, no Rio de Janeiro. Esta ocorrência obteve a atenção dos jornais apenas dois anos após a realização dos JO e o retorno de Alfredo Bercht para o Brasil, quando o barco quase foi a leilão (Jornal dos Sports 1958, 7).

O COB e CBMV foram apontados como os responsáveis por esta situação pela impressa sul-rio-grandense, porém as entidades não assumiram tal responsabilidade, transferindo o encargo do ocorrido uma para a outra (Correio da Manhã 1958, 2-1). O Jornal dos Sports do Rio de Janeiro publicou uma reportagem que trouxe à tona o que estava acontecendo com o barco Inca, de propriedade do velejador e que competiu nos JO, mencionando que este ficou parado na Alfândega se deteriorando e sem manutenção. A mesma reportagem destaca os apelos sem sucesso do velejador aos dois órgãos responsáveis, CBVM e COB, os quais apenas ganharam volume quando o mesmo aconteceu com outro velejador que representou o Brasil no Campeonato Mundial da Classe Snipe, em setembro de 1957, e também teve seu barco retido (Jornal dos Sports 1958, 7). A atenção da imprensa surtiu resultado para a solução do problema quando jornalistas começaram uma investigação e foram buscar mais informações sobre o assunto com o responsável do COB. Os jornalistas descobriram o nome de quem havia perdido os documentos do barco Inca, e identificaram que a razão da retenção do barco foi porque este estava sendo considerado um barco estrangeiro, mesmo tendo como ponto de partida o Brasil. Depois de quatro dias da publicação da primeira reportagem sobre o assunto, o barco foi liberado após uma declaração do cônsul da Austrália (Jornal dos Sports 1958, 7). Assim, Alfredo Bercht se utiliza do poder disciplinar da imprensa para solucionar o aprisionamento do barco. Tal poder se dá pela capacidade de mobilização, uma vez que os jornais não apenas transmitem informações, mas também agem na sociedade a partir dos discursos que expressam ideias e valores formando opiniões e agindo no imaginário social (Barros 2019).

A edição dos JO de 1956 marcara a última participação de Alfredo Berchtno evento, entretanto, ele continuou competindo e foi campeão brasileiro entre os anos de 1961 e 1965, fazendo dupla com Manfred Flöricke pelo Clube Jangadeiros de Porto Alegre e, ainda, participou de uma competição internacional pelo mesmo clube (Carneiro 2004). O velejador disputou competições até a década de 1980 (Flotilha 2022). “… (Fonte descrita acima)

Um momento da participação do Brasil nas Olimpíadas de 1956 – Veja, no meio da foto, o numeral BL 6 do veleiro brasileiro INCA, com Rolf Ebling Bercht e Alfredo Jorge Ebling Bercht

Artigo e fotos de W. Mueller na Revista Yachting Brasileiro No. 39 de janeiro de 1948. Todos os direitos reservados. Proibida sua reprodução.


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